quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Vira a página do calendário

Terça-feira não é dia de futebol. É uma espécie de ressaca de segunda-feira, o dia que não deveria existir por vir logo após o domingo. Que o diga o Botafogo. Nesta terça insossa, 21 de janeiro, fincou 0x0 no placar de São Januário contra o Bangu. O empate com o time de Carlos Renan, zagueiro com nome de cantor de bolero e que joga com rabo de cavalo, penteado comum aos argentinos e já usado por Leandro Guerreiro no próprio alvinegro, evidenciou um grupo fora do tom, de pelos eriçados. São os reservas, exceção de Dória, claro. Mas estão ali, com a estrela solitária no peito. Deveriam emitir algum brilho que fosse.

O início foi alvissareiro. Rodrigo Souto acertou a trave. Renato parou no goleiro; na sobra, Henrique desperdiçou. Eis que a sina da falta de gols de Rafael Marques contagiou o atual dono da camisa 9. A bola e ele não se entendem, mesmo quando o caminho das redes parece nítido e o grito de gol quase sai pela boca já aberta dos torcedores. Parece não haver sintonia. Falta paixão, carinho e cumplicidade. O rapaz se esforça, corre, transpira litros e... nada! Nas entrevistas diz estar tranquilo, se expressa bem, demonstra o tom de voz suave dos confiantes. Passa o tempo, o jogo, o campeonato. Nada.

Gegê, canhotinho habilidoso, arriscou da intermediária em dado momento. Passou muito, muito perto. O lateral estreante Alex conseguiu boa jogada, pela direita, e mandou para a área. O cruzamento não foi interceptado por ninguém e saiu do outro lado. Foi o último bom lance de um primeiro tempo interessante da equipe. Airton protegeu bem o meio de campo e roubou várias bolas. Marca forte os calcanhares adversários, literalmente. Se for um pouco menos afoito pode almejar vaga entre os titulares. É o típico cabeça de área cão de guarda. Com a vantagem de não ter um passe dos piores, não.

Outro guri, o Daniel, se movimentou bastante. Carregou a bola em várias situações. Tem habilidade, mas falta maturidade no auge dos reluzentes 19 anos. Dankler parece uma mistura de Dedé com Júnior Baiano. A postura erguida, cabeça em pé, remete ao ex beque do Vasco, agora no Cruzeiro. E os saltos atabalhoados para cortar pelo alto são imagem e semelhança do antigo zagueiro de Flamengo, São Paulo e Seleção Brasileira. À propósito, pausa na análise do jogo: Júnior Baiano foi um Odvan melhorado, ou Odvan foi um Júnior Baiano piorado? E pensar que os dois, sim, os dois, já vestiram a amarelinha...

A volta para o segundo tempo foi com Octávio no lugar de Gegê. Mais um garoto, esse extremamente disperso. Tipo de jogador vibrante num lance, dorminhoco nos seguintes. O Bangu, fechadinho, só assustou com Almir, aquele mesmo revelado pelo Botafogo e destaque na Série B de 2003. Continua roliço e perigoso. Teve duas oportunidades, uma em cada tempo, para matar o jogo. Perdeu ambas. Teria sido falta de competência ou respeito? Vai saber... O ponto forte banguense é a marcação. Parece ser exigência do gorducho Mazolinha, o treinador. E não é aquele do cruzamento para o gol de Maurício, em 1989, não. Xará, só.

Aos berros e com semblante de pouquíssimos amigos, Eduardo Húngaro voltou a mexer. Sacou Henrique (surpresa, não? rs) e pôs Yguinho, um negro magricela que em muito remete a figura de Maicosuel. Logo na primeira bola fez belíssima inversão de jogo, da esquerda para a direita. Só foi notado novamente ao perder uma chance incrível, rigorosamente igual a de Henrique na etapa inicial e que também contou com rebote do goleiro pós conclusão de Renato. Entre uma tentativa fortuita e outra, Sassá entrou. E quando Sassá entra, o desespero se espalhou faz tempo. Terça-feira não foi noite de futebol. Que venha a quinta.

Álvaro Marcos Teles

2 comentários:

  1. Dá gosto de ler seu texto, Álvaro. Ele flui como uma boa música. Quanto ao jogo de ontem, não vi o 1º tempo, em que - pelo que soube - o time jogou bem. O que vi no 2º tempo foi de esquecer. Prefiro nem comentar. Como você disse, vamos esperar esta quinta-feira para vermos o time titular. De qualquer maneira, é bom - olha a condescendência aí - o time não ganhar para a cobrança aumentar e a diretoria não se acomodar, afinal a prioridade é a Libertadores!

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  2. Foi por aí mesmo Álvaro.
    Incompreensível jogadores que buscam, ou pelo menos deveriam estar buscando, um lugar no time principal não suarem sangue em partidas oficiais que têm chance de disputar.
    Gegê nas duas partidas não pareceu ser o mesmo de 2013. Ontem se movimentou, mas errou muito.
    Octávio muito lento...muito.
    Daniel buscou jogo, puxou contra ataque, sofreu falta. Precisa de mais rodagem, mas tenho esperança nesse garoto futuramente.
    Renato, pelo nome, pelo salário, pela experiência e pelo que se espera dele, por mais que tenha participado de algumas jogadas e quase marcado em duas oportunidades, sempre dá a impressão que falta algo, que poderia e não consegue mostrar mais.
    Vamos aguardar os titulares nessa quinta, mas com a observação de que Ferreyra não foi regularizado e o treinador deve colocar...Henrique. Haja coração!

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