sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Pernas, te quero!

Depois das férias, o treino. Depois do treino, o primeiro jogo. A apresentação do time principal do Botafogo para a temporada foi cercada de expectativas. E de interrogações. Como vai ser essa equipe sem o aposentado Seedorf e o questionável Rafael Marques? O argentino Bolatti e o carequinha veterano Jorge Wagner vão suprir as ausências dos antigos titulares? O momento de responder as dúvidas atendeu pelo nome de Madureira, ontem à noite, num São Januário vazio e calorento. Até então os torcedores só tinham visto em campo garotos recém- promovidos, remanescentes do ano passado e reforços minguados.

De início foi possível perceber Bolatti centralizado à frente da defesa, buscando acelerar a saída de bola. Gabriel pelo lado esquerdo, relativamente próximo a Júlio César, e Marcelo Mattos ocupando o setor direito - um pouco mais distante de Edílson. Jorge Wagner também caiu pela beirada esquerda, aproveitando o fato de ser canhoto. Lodeiro, entre o fica ou vai para a Turquia, guardou posição mais à direita. À exceção dos volantes, os meias circularam também por outros cantos e até inverteram os lugares em alguns lances. Mobilidade para fugir da forte marcação.

Imprimindo ritmo veloz logo no início, as chances de gol foram se sucedendo. Até Gabriel esteve perto de marcar. E a rede, enfim, balançou em ótima cobrança de falta de Jorge Wagner - especialista em bolas paradas. Contou, é verdade, com o desarme da barreira no momento do chute. O que não tira o mérito da execução da jogada. O novo camisa 10 parece ter bom preparo físico. E mesmo aos 35 anos participou com intensidade da partida. Fala menos que Seedorf. Bem menos. E joga menos. Muito menos. Não é craque. Não é mito. Não carrega o time nas costas. É, só, um meia experiente e de alguma categoria. 

Ao fim do primeiro tempo os jogadores pareceram exaustos. E a impressão se estendeu por toda uma dramática segunda etapa, que começou com um gol de... Henrique! Ao escorar de cabeça um cruzamento perfeito de Júlio César, ele tirou das costas o peso de nunca ter marcado antes com a camisa alvinegra. A aparente tranquilidade de um 2x0 no placar aos cinco minutos do tempo final chegou num momento oportuno. À medida que o tempo passou, o dinamismo do time diminuiu. Gabriel, pulmão do meio de campo, já não corria tanto. Henrique se arrastava. Jorge Wagner cadenciava. E Bolatti recuava.

Percebendo que a bola já não permanecia mais no campo de ataque como antes, Eduardo Húngaro sacou o extenuado Henrique e pôs, pelo segundo jogo seguido, o garoto Yguinho - artilheiro dos juniores no ano passado. Novamente foi infrutífero. O guri mal tocou na bola e ainda errou um passe no meio que quase proporcionou contra-ataque perigoso do Madureira. Sem pernas, Bolatti também saiu. Mesmo com certa folga no escore e podendo aproveitar para manter o sistema de jogo, Húngaro preferiu arriscar. Lançou Sassá, tão raçudo quanto atabalhoado. Postou o time no 4-4-2 que ele pretende implantar.

A ousadia teve um preço. Também vindo de uma mini maratona de três jogos em seis dias, o Madureira, melhor preparado fisicamente - possivelmente por ter tido um tempo maior de pré-temporada -, começou a rondar a área. Fez um, com o habilidoso Carlinhos. E quase empatou, não fosse uma defesa espetacular de Jefferson. O goleiro capitão começa o ano como terminou 2013: salvando o time. A ficha de Húngaro caiu. Para recompor a defesa, tirou um aborrecido Sassá e colocou Fabiano - outro oriundo das categorias de base. Pouco depois, o juiz apitou o fim. Mas o sofrimento de botafoguense parece nunca acabar.

Álvaro Marcos Teles

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