domingo, 23 de junho de 2019

Numerologia e o sonho realizado de conhecer os campeões de 1989 do Botafogo

Foto: Vítor Silva

Nasci no dia 23 de junho de 1981. Aos sete anos de idade, no dia 7 de maio de 1989 virei botafoguense. O Botafogo perdia para o Flamengo por 3 a 1. Meu avô materno, Egenildo, flamenguista, já havia me dado uma camisa do Flamengo e me fotografado com ela. Mas naquele dia ouvia o jogo pelo radinho com meu pai botafoguense, Fernando. O Botafogo empatou a partida com dois gols no finzinho, de Gonçalves, então jovem zagueiro do Flamengo, contra; e Vitor, que apesar de depois ter se declarado botafoguense, havia sido revelado pelo Flamengo. Aquele empate mudou meu destino. Eu cheguei a fazer um desenho eu queimando a camisa do Flamengo e escrito: Agora eu boto fogo!
Contrariei a máxima do hino rubro-negro que diz: “Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer”. Naquele 7 de maio de 1989 nascia um botafoguense. Pouco mais de um mês depois eu comemorei, já como botafoguense, o título do campeonato carioca em cima do Flamengo. A conquista acabou com um jejum de quase 21 anos sem títulos oficiais do Botafogo. O último havia sido da Taça Brasil de 1968, que teve a final disputada em 1969. O Botafogo foi campeão no dia 21 de junho, o jogo começou às 21 horas, o placar eletrônico do Maracanã marcava a temperatura de 21 graus, o cruzamento para o gol do camisa 7, Maurício, foi feito pelo ponta Mazolinha, número da camisa 14. Repare que o número 7 de Garrincha aparece desde o 3 a 3 no dia 7 de maio, depois com os múltiplos 14 e 21.
Na sexta-feira, dia 21 de junho de 2019, fui ao Rio de Janeiro para o evento comemorativo dos 30 anos do título de 1989 do Botafogo, na sede do clube em General Severiano. O evento contou com a presença dos jogadores campeões. Foi um dia histórico! Realizei o sonho de conhecer os personagens da grande conquista, que os que não são botafoguenses não têm a dimensão do que representa. Na ida comprei a passagem de ônibus no valor de R$ 89,37 e o atendente me deu como opção o assento número 12, tempo do gol de Maurício e 21 ao contrário. Na volta, peguei o ônibus de 23h07. Foi um dos dias mais felizes da minha vida.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Futebol infantil





Durante o aquecimento dos goleiros, o nome dele foi ouvido em uníssono: "Ga-ti-to, Ga-ti-to". Cumpriu bem o protocolo de revezar com Diego Cavalieri aos esforços demandados pelo preparador Flávio Tênius. Concentrado, espichou-se ao máximo. Deu um sorrisinho de canto de boca e um modestíssimo aceno aos torcedores. É o ídolo atual. Único. Solitário como a estrela do escudo, o mais bonito do mundo. E a responsabilidade, cá pra nós, lhe cai como uma luva.
Da aquecida arquibancada do Moacyrzão, ontem, em Macaé, iluminada por um sol fortíssimo mesmo no finzinho da tarde, outro grito ecoou assim que os demais jogadores pisaram o gramado pela primeira vez na temporada: "Ah, é Zé Gatinha... ah, é Zé Gatinha". Um tímido rapaz tatuado, de bigode ralo, demorou para agradecer ao deboche. Primeira contratação para o ano, chegou ainda em 2018 implorando para ser chamado de Alessandro, nome de batismo.
Gatito quer ser Gatito mesmo. O paraguaio espetacular, de defesas milagrosas, que por muitos instantes fez com que o ausente Jefferson não deixasse a torcida órfã embaixo das traves. Zé Gatinha, não. Quer engavetar o curioso apelido pelo qual ficou conhecido nos pequenos times por onde passou. Talvez não tenha consciência de que nem sempre é fácil apagar o passado. A borracha do tempo deixa rastros grudados no imaginário coletivo. Mudar exige paciência. Muita.
Contra a Cabofriense, Gatito encabeçou a escalação. Zé Gatinha estreou no banco. Duas realidades tão distintas que só se entrelaçaram na saudação dos aficionados botafoguenses. Esses cantaram, pularam, tremularam bandeiras... Mas, no fundo, confiam, mesmo, é no goleiraço. E quando o camisa 1 tem a idolatria mor, algo parece não andar bem com os outros dez que o acompanham quatro linhas adentro. Ainda mais quando foram escalados, juntos, pela primeira vez na vida.
Bola rolando e, o que se viu, foi a equipe da Região dos Lagos bem preparada fisicamente. Entrosada, também. Pressionou no início. Bastante, até. Parecia jogar em casa, embora só tivesse o mando de campo. O Botafogo demorou até se encontrar. Houve espasmos durante o primeiro tempo. Como o gol de Luís Fernando, que abriu o placar e, novamente, a cantoria da galera. Que só voltou a se empolgar com... Gatito!!! Duas grandes defesas e o nome ecoado de novo.
Os praianos não deram sossego até empatarem, com um centroavante "Gladiador". Na etapa final, uma bola na trave, de Helerson, no começo, e outra de Alex Santana, no fim, geraram as únicas alegrias. Anderson Rosa virou. Rincon alargou o placar para uma equipe que também tem Valderrama. Parecia a Colômbia dos bons tempos. Resta esperar pelo que virá. De preferência, com a ingenuidade da criança que torce amparada pelos ombros do pai.
Texto e fotos: Álvaro Marcos Teles

sábado, 5 de janeiro de 2019

A maldição botafoguense

Já virou clichê dizer que “o botafoguense é o torcedor mais supersticioso do mundo” e que “há coisas que só acontecem com o Botafogo”. Isto todo mundo sabe. Mas o que muita gente pode não saber é que existe uma “Maldição Botafoguense”. A tal “Maldição Botafoguense” é usada pelos torcedores do Botafogo quando algum jogador que saiu pela porta detrás do clube acaba se dando mal em outro time.

Mas talvez o que o próprio torcedor do Botafogo não saiba é que a “Maldição Botafoguense” pode ser aquele feitiço que às vezes se vira contra o feiticeiro. Estou falando isto porque hoje assistindo pela televisão a um jogo do Botafogo pela Copinha um lance chamou a atenção de todos, que foi uma sequência de jogadas artísticas de um jogador adversário, que descontrolou o time do Botafogo, que acabou levando o gol e tendo um jogador expulso justamente por uma entrada violenta no mesmo jogador que cometeu o que pode ser considerado um abuso.

O que quero dizer é que seria muito fácil cair em falso moralismo e dizer que o jovem jogador da equipe que enfrentou o Botafogo praticou um excesso. Mas esta seria uma tremenda contradição vinda de um botafoguense, que tem como um de seus maiores ídolos o endiabrado Garrincha, que atormentou incontáveis “Joões” com seus dribles humilhantes. É possível que o Botafogo esteja pagando pelos “pecados” de Garrincha. Afinal, quem tanto tripudiou agora sofre eternamente o mal do ressentido.

E o que dizer das palhaçadas de Túlio Maravilha, zombando com seus nomes de gols e comemorações? E a cavadinha de Loco Abreu, um herege a provocar a sanha da maior torcida do Brasil? Por estas e outras que o Botafogo começa seus jogos pensando não em ganhar, mas em não perder, como cantado no hino, o qual Seedorf quis mudar. Porque para o botafoguense vale o que Darcy Ribeiro disse em “O povo brasileiro” sobre o que esperava da nova civilização brasileira: “Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades”.