domingo, 19 de janeiro de 2014

O tempo e o vento

O fim de tarde avermelhado deste sábado, 18 de janeiro, em Volta Redonda, Sul do Estado do Rio de Janeiro, se pôs como cenário promissor. Rechaçar as nuvens negras, ter tempo e vento como parceiros, apresentar um belo espetáculo e adormecer no berço esplêndido das glórias é justamente a procura insaciável do Botafogo em 2014. Um ano especial, de Libertadores. E que começou no palco, coincidência boa, da conquista do último título - o Estadual do ano passado. Foi no castigado e bicolor gramado do Raulino de Oliveira que a bola rolou para o alvinegro pela primeira vez na temporada. Uma jornada de Campeonato Carioca com capítulos recheados de ingredientes.

Eduardo Húngaro, o debutante

Pela estampa, o treinador chamado nos corredores pelo simplório apelido de "Duda", parece uma mistura genética resultante da combinação de Muricy Ramalho com Renato Gaúcho. De frente, semblante fechado, lembra o técnico do São Paulo. De lado, perfil emoldurado pelos lisos fios de cabelo, parece o colega comandante do Fluminense. Desta estranha definição surge ele próprio. Grita, resmunga, gesticula. E também tem o respeito do grupo. Hoje foi batizado. É, de fato e de direito, agora, quem dá as ordens à beira do gramado. Deixou o crachá de auxiliar para trás. Ainda não conseguiu o mesmo com a desconfiança. Terá êxito nas vitórias, não em insossos empates como o de 1x1, frente ao Resende.

Lucas, o retorno

O lateral direito alvinegro já teve grandes momentos. Chegou à Seleção. E ao ostracismo. Era titular até se machucar seriamente num lance fortuito e involuntário com Zé Roberto, do Grêmio, no Brasileirão passado. Ficou meses em recuperação. Ressurgiu. Logo no início, como antes: feito flecha disparou pela direita ao receber preciso lançamento e cruzou milimetricamente para o gol, aos 10 minutos. Um alívio em dose dupla. Primeiro pela igualdade no marcador, àquela altura inaugurado pelo arisco Geovane Maranhão. Segundo para mostrar que pode, e deve, ser importante no grupo. No melhor da forma, é candidato à titular.

Rodrigo Souto, o estreante

Alto, de bom trato com a bola, irmão do coordenador das divisões de base e amigo do presidente. O perfil de um dos reforços mais conhecidos tem como detalhes, ainda, as oscilações na carreira. E um dopping. Apareceu em General Severiano sem empolgar. As relações extracampo com personagens influentes no clube ganharam as manchetes dos sites esportivos. Ainda lento e visivelmente fora de forma, não deixou má impressão, não. Deu dois, três carrinhos, muito arriscados. Não levou cartão. Ao contrário, deixou um, de visitas: fez excelente lançamento para Lucas na jogada do empate. De cabeça em pé, do jeito que se espera de alguém que atua na meia. E de quem quer vencer toda e qualquer desconfiança.

Renato, o maestro

A numeração para o ano não está definida. Por isso, a equipe entrou em campo, como há muito não ocorria, uniformizada de um a 11. A 10, pós saída de Seedorf, ganhou, ao menos até a próxima partida, um novo dono. Não só a camisa. O posicionamento também lembrou muito nosso ex craque recente. Em várias situações a mesmíssima faixa de campo foi ocupada. Ponto para Eduardo Húngaro, que aproveitou para observá-lo na função. Em termos, deu certo. Como autêntico centroavante, a exemplo do que Seedorf já fizera, escorou o cruzamento de Lucas para estufar as redes. Usou a braçadeira amarela de capitão. Liderou, tranquilizou os mais jovens. Não foi uma atuação brilhante, mas de alguma luz.

Daniel, o batismo

Quarta-feira que vem, dia 22, ele faz 20 anos. Um garoto. No jeito de jogar e de falar. E exatamente ela, a timidez, falou mais alto que a enorme expectativa criada em seu entorno nos últimos dias. Não reeditou as excelentes performances dos treinamentos. Ansiedade e nervosismo atrapalharam. Não é fácil ignorar a primeira partida como titular da vida. Não é simples ser desenvolto ao microfone dos repórteres, no fim do jogo. Apesar dos pesares, fez boas jogadas - poucas. Destro, foi escalado do lado esquerdo. Gegê, outro guri, canhoto, iniciou pela direita. Lá pelos 30 minutos inverteram as posições. Melhoraram. Com o peso do ineditismo tirado das costas, quem sabe...

Henrique, o insistente

Anunciado no início do ano passado, ganhou algumas oportunidades. Um jogo aqui, outro ali. Mais de 20 participações, mesmo quando aproveitado já no finzinho. E nenhum gol. Nada. Para um centroavante, é o mais terrível e temível dos pecados. Uma mácula de proporções interminavelmente infernais. O calendário virou e as esperanças, dele próprio, se renovaram. Possivelmente até pela surpresa em permanecer, mesmo com desempenho tão ridiculamente pífio. E de ser titular. Aos 42 segundos, chutou com perigo. Meia hora depois, a bola desviou na zaga e saiu. No segundo tempo, aos 12 minutos, passou perto: acertou a trave. A bola não gosta dele. É preciso respeitá-la em suas predileções.

Álvaro Marcos

2 comentários:

  1. Como é do seu feitio, um texto poético, né Álvaro? Muito melhor do que se ler do que a objetividade jornalística do meu. Quanto às suas análises, coincidência, meu pai também falou que o Eduardo Húngaro se parece com o Renato, mas pelo fato de ficar gritando à beira do campo, o que pode ser bom, pois mostra que ele é participativo, melhor que o apático Oswaldo, mas, segundo meu pai, isto mostra uma pequenês do técnico, porque para meu pai, quem faz isto, grita à beira do campo, é técnico de time pequeno. Eu particularmente gosto de técnico assim. Sobre o Rodrigo Souto, me surpreendeu para melhor. Muito por conta dessas relações de parentesco com dirigente do clube, confesso que estava com certa má vontade com ele. Mas, principalmente no lance do gol, mostrou categoria ao dar um toquinho por cima para Lucas. Renato, é aquela coisa. Jogador habilidoso, de boa visão, mas errou alguns passes e às vezes se omite do jogo. Até o entendo. Ele não é de correr, afinal quem corre é a bola. Pode ser titular. Daniel, gostei muito. Já tinha visto contra o Vasco, em que ele fez uma boa jogada. E ontem mostrou ainda mais. Joga fácil! Henrique, esperava que aconteçesse com ele o mesmo que aconteceu com Rafael Marques, que também ficou uma temporada sem marcar e depois deslanchou. Ontem até que o Henrique começou bem. Como você disse, teve uma chance logo no comecinho, mas depois ele mesmo perdeu a paciência com a bola, paciência que teremos de recuperar com ele a cada jogo, até que marque seu primeiro gol.

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  2. Eu que cancelei meu Premiere depois da derrota para o Goiás nas últimas rodadas do Brasileirão, não vi o jogo, mas ao ler a análise do amigo Álvaro, tive a sensação de estar no estádio. Gostei principalmente da opção de colocar Renato mais adiantado. Quem sabe assim as coisas melhorem?

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