quinta-feira, 16 de abril de 2020

A decisão de 68 e a bandeira que quase não fica pronta



O ano era 1968, de um lado o Botafogo do técnico Zagalo com: Cao, Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gérson; Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César;

Do outro a equipe do Vasco que, se fizesse uma busca no Google escalaria aqui, mas para ser fiel, lembro do Buglê, Ferreira, Brito, Fontana e o Nado.

Aos oito anos, não tenho na memória outro jogo antes deste, talvez por ter sido um jogo decisivo. Lembro na sequência de Botafogo 4 x 1 Flamengo, decisão da Taça Guanabara, também em 1968.

Durante as horas que antecederam a partida contra o Vasco, foi se instalando um clima eufórico na minha casa.

Meu pai, que era um torcedor contido e minha mãe, que até então se dizia flamenguista, conversavam sobre o jogo durante o almoço daquele domingo.

Minhas irmãs e eu fomos nos envolvendo com aquele clima. Que horas é o jogo, pai? Percebendo o nosso interesse, nossa mãe ‘inventou’ de costurar uma bandeira branca e preta.

Faltavam poucas horas para o início do jogo, embora eu sempre tenha convivido com uma máquina de costura ELGIN encostada em um dos quartos, não era comum minha mãe sentar e costurar.

Mas lá estava ela com a garra das costureiras do barracão do Salgueiro, lá estava ela envolvida com agulhas e dedais, retalhos e linhas, costurando a bandeira que seria hasteada, como a vitória dos expedicionários brasileiros em Monte Castelo e Montese.

Faltando alguns minutos para o jogo começar e com a voz de Waldir Amaral no rádio; com minha mãe acelerando o pedal da máquina como quem precisa pegar velocidade para saltar em voo livre;

Com meu pai, supersticioso, duvidando de que a bandeira estaria pronta antes do jogo; com a nossa tensão crescendo diante de um desastre anunciado, finalmente, minutos antes do juiz apitar, minha mãe gritou:

Está pronta! A bandeira está pronta!

O Botafogo venceu por 4x0 e foi campeão carioca.

Depois do jogo corremos com a bandeira pela calçada e ela virou um símbolo que, por anos, ficou na parede do meu quarto.

Depois desse jogo minha mãe se transformou na maior botafoguense da família.

Ricardo Mezavila




Nenhum comentário:

Postar um comentário