sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Palito de Churrasco

Há alguns anos, em Campos, no Rio, o time master do Botafogo participou de um jogo contra o master do Flamengo. Uma das atrações daquele time era o atacante Maurício, camisa sete alvinegro, autor do gol do título carioca de 1989 sobre o Flamengo. Neste jogo de veteranos, Maurício marcaria o gol do Botafogo, num lance parecido com o gol que marcou (o primeiro) no empate em 3 a 3 no mesmo ano de 89, no jogo em que me tornei botafoguense. Nesse jogo, o Botafogo perdia por 3 a 1 e foi buscar o resultado num golaço do meia Vítor e um gol contra do zagueiro Gonçalves, que no ano seguinte se transferiria para o time da estrela solitária.

Mas voltando ao jogo de veteranos em Campos, a partida virou um a zero para o Botafogo, gol de Maurício, como em 89, ano em que o Fogão foi campeão invicto. Detalhe é que nesse clássico de veteranos eu estava com uma camisa alvinegra antiga, de malha, que era do meu pai. Assim que cheguei ao estádio do Goytacaz, onde foi disputado o clássico, torcedores do Flamengo mexeram comigo falando que aquela camisa, do início da década de 1990, com o patrocínio da Coca-Cola, era da época de Paulinho Criciúma.

Quanto ao jogo em si, no intervalo resolvi fazer uma "macumba" e enterrei um palito de churrasco atrás do gol onde o goleiro do Botafogo ficaria, na expectativa de proteger a meta alvinegra. Aquela baliza tinha sido a mesma em que Maurício, o camisa sete, havia marcado o gol que ia garantindo a vitória para o Botafogo sobre o arqui-rival Flamengo. Para melhorar o "trabalho" fui para trás da meta do goleiro rubro-negro, o falecido Zé Carlos, para provocá-lo. Chamava-o de frangueiro e de ladrão. Zé Carlos agora era empresário e havia, sorrateiramente, vendido para o Atlético-MG um jogador da base do Botafogo, Hugo, morador de São Fidélis, no interior fluminense.

Nesse momento, alguns torcedores do Flamengo, vendo que eu estava atrapalhando o goleiro do time deles - que chegou a discutir comigo, foram em minha direção e me ameaçaram. Coagido - era uns 10 truculentos - resolvi sair dali de trás do gol de Zé Carlos. E não sei por que cargas d'água, tive a idiota ideia de ir atrás do gol defendido pelo goleiro do Botafogo para tirar o palito de churrasco. Não é que quando vinha saindo, parece que distraí o nosso arqueiro, que foi surpreendido com o chute de Júnior Capacete. A bola entrou cruzada como no gol de Gighia na final da Copa de 50 entre Brasil e Uruguai.

O jogo terminou empatado no tempo normal em 1 a 1 e foi para os pênaltis. Os jogadores alvinegros perderam várias cobranças e o rubro-negro acabou conquistando a taça do torneio. Eu fui às lágrimas, como os torcedores brasileiros no Maracanazo. A minha "macumba" improvisada virou contra o feiticeiro. Pelo menos, tive o imenso prazer de ver pessoalmente o camisa sete Maurício marcar contra o Flamengo como em 89. Mas apesar de já passados cerca de 10 anos, a voz da consciência persiste em indagar: por que eu arranquei aquele palito de churrasco?

Wesley Barbosa Machado


Obs: Essa crônica foi selecionada no Concurso "Crônicas Alvinegras", do Botafogo de Futebol e Regatas; e vai integrar o livro "A Magia do 7", que será lançado no dia 7 de novembro na sede do clube, em General Severiano. A publicação foi feita mediante autorização da Editora Livros Ilimitados, reponsável pela edição do livro, que estará disponível para venda de maneira on-line no site da editora e em livrarias de todo o Brasil.

5 comentários:

  1. Aqui em casa, costumo ficar na mesma posição durante o jogo depois que o Glorioso sai ganhando. Na maioria da vezes, dá certo. Portanto, nunca mais tire o palito do lugar.
    Mais uma vez, parabéns pela indicação!
    Saudações alvinegras!!

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  2. A crônica ficou ótima mesmo, Wesley. Vc mereceu muito ter sido selecionado. Ah, quando acontecer o lançamento do livro, avise com antecedência. Vou tentar me programar para ir. Abração.

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  3. Álvaro, o lançamento será no dia 7 de novembro.

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  4. Ainda não sei a hora, Álvaro. Estou esperando o contato do clube. Quem me informou o dia foi um representante da editora.

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