Entre sonho e realidade

Hoje é daqueles dias em que a gente não vive direito. Tremenda quarta-feira de Cinzas, possibilidade de aproveitar o restinho do Carnaval... Mas a cerveja não desce tão gelada, o calor incomoda menos e a ansiedade toma conta. Afinal, mais tarde, no Maracanã, temos um jogo decisivo pela frente justo contra nosso maior rival.

Confesso: sonhei com esse jogo na noite passada. Pesadelo. Em minhas imaginações notívagas, perdemos de goleada - impiedosos 4x1. Daí a amplitude da tensão nas horas que antecedem o confronto. Tento recorrer a essas interpretações de sonhos que garantem sempre o resultado oposto. Como aquela velha máxima de que o sujeito tem muita saúde se sonhar com a morte.

Tô apostando todas as fichas nessa mandinga, embora não seja chegado a crendices desse tipo. Como ser humano natural, não creio. Na superstição alvinegra, porém, vale tudo. Então, passo por um processo íntimo que me atormenta. Ao sonhar com um revés impiedoso, criei, dentro de mim, a necessidade em crer que teremos uma noite gloriosa.

A realidade, entretanto, freia imaginações otimistas. Temos, é fato neste momento, inferioridade em relação ao pessoal da Gávea. O time deles, entrosado e com a base do título brasileiro, tem todo o favoritismo. Quando a bola rolar, que essa "superioridade" vá pro inferno. Gol de quem for, vale nossa vitória. Até de Alessandro ou Fahel, nossos inimigos íntimos.

Tô tenso, como deve estar a imensa galera botafoguense. Transpiro, arranco fios de cabelo e não penso em outra coisa. Tomara a noite seja nossa, mesmo demandando impressionante sofrimento. Que esses rubro-negros tenham gastado toda a energia na Marquês de Sapucaí. E que o Carnaval de fato, nessa quarta-feira de Cinzas, seja preto-e-branco. Vamo, Fogo!!!