Durante o aquecimento dos goleiros, o nome dele foi ouvido em uníssono: "Ga-ti-to, Ga-ti-to". Cumpriu bem o protocolo de revezar com Diego Cavalieri aos esforços demandados pelo preparador Flávio Tênius. Concentrado, espichou-se ao máximo. Deu um sorrisinho de canto de boca e um modestíssimo aceno aos torcedores. É o ídolo atual. Único. Solitário como a estrela do escudo, o mais bonito do mundo. E a responsabilidade, cá pra nós, lhe cai como uma luva.
Da aquecida arquibancada do Moacyrzão, ontem, em Macaé, iluminada por um sol fortíssimo mesmo no finzinho da tarde, outro grito ecoou assim que os demais jogadores pisaram o gramado pela primeira vez na temporada: "Ah, é Zé Gatinha... ah, é Zé Gatinha". Um tímido rapaz tatuado, de bigode ralo, demorou para agradecer ao deboche. Primeira contratação para o ano, chegou ainda em 2018 implorando para ser chamado de Alessandro, nome de batismo.
Gatito quer ser Gatito mesmo. O paraguaio espetacular, de defesas milagrosas, que por muitos instantes fez com que o ausente Jefferson não deixasse a torcida órfã embaixo das traves. Zé Gatinha, não. Quer engavetar o curioso apelido pelo qual ficou conhecido nos pequenos times por onde passou. Talvez não tenha consciência de que nem sempre é fácil apagar o passado. A borracha do tempo deixa rastros grudados no imaginário coletivo. Mudar exige paciência. Muita.
Contra a Cabofriense, Gatito encabeçou a escalação. Zé Gatinha estreou no banco. Duas realidades tão distintas que só se entrelaçaram na saudação dos aficionados botafoguenses. Esses cantaram, pularam, tremularam bandeiras... Mas, no fundo, confiam, mesmo, é no goleiraço. E quando o camisa 1 tem a idolatria mor, algo parece não andar bem com os outros dez que o acompanham quatro linhas adentro. Ainda mais quando foram escalados, juntos, pela primeira vez na vida.
Bola rolando e, o que se viu, foi a equipe da Região dos Lagos bem preparada fisicamente. Entrosada, também. Pressionou no início. Bastante, até. Parecia jogar em casa, embora só tivesse o mando de campo. O Botafogo demorou até se encontrar. Houve espasmos durante o primeiro tempo. Como o gol de Luís Fernando, que abriu o placar e, novamente, a cantoria da galera. Que só voltou a se empolgar com... Gatito!!! Duas grandes defesas e o nome ecoado de novo.
Os praianos não deram sossego até empatarem, com um centroavante "Gladiador". Na etapa final, uma bola na trave, de Helerson, no começo, e outra de Alex Santana, no fim, geraram as únicas alegrias. Anderson Rosa virou. Rincon alargou o placar para uma equipe que também tem Valderrama. Parecia a Colômbia dos bons tempos. Resta esperar pelo que virá. De preferência, com a ingenuidade da criança que torce amparada pelos ombros do pai.
Texto e fotos: Álvaro Marcos Teles
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