Faixa-resposta à apresentada pelos jogadores do Botafogo, ontem, na entrada do time em campo, no Maracanã, para enfrentar o Flamengo: "Um título brasileiro desde 1970; nenhuma Copa do Brasil, Libertadores ou Mundial Interclubes. Estamos aqui por amor ao clube, de passado tão glorioso, não por um bando de pernas-de-pau como vocês". A cobrança do grupo é legítima, claro. Trabalhador tem que receber tudo que foi acordado, independentemente do empregador e sua condição econômica. Agora, o torcedor, esse eterno apaixonado, também tem direitos. O principal é ir ao estádio ver um time, não um bando.
Repetir que a equipe atual é fraquíssima beira o lugar-comum. Ninguém, em sã consciência, crava o alvinegro como candidato ao título ou, sequer, a lutar por uma vaguinha na Libertadores. É sentimento consensual: escapar do rebaixamento terá a dimensão da conquista de um troféu. Agora, para chegar a objetivo tão miserável, o mínimo que se espera dos atletas é demonstração de raça e uma dose que seja de organização. Talvez a mesma que eles empregam para reivindicar publicamente, no gramado, diante do maior rival e sua torcida costumeiramente mais volumosa, o que têm, sim, a embolsar.
No primeiro tempo, principalmente, o que se viu foi um triste espetáculo de horrores. Um aglomerado de perdidos. Nosso maior expoente, Jefferson, o goleiro, tarja de capitão no braço, não é muralha intransponível. Faz lá seus milagres, tenta organizar a defesa, dá chutões - muitos desnecessários -, bate as mãos nas coxas em sinal de descontentamento e grita a cada brecha escancarada no miolo de zaga. Edílson oscila entre importante opção no chute longo e um destempero tão habitual quanto irritante, que vários prejuízos já causou em partidas fundamentais. A zaga se estrebucha, a lateral esquerda se enrola.
Um meio de campo, já povoado por craques do naipe de Didi e Gérson, padece com a mediocridade de Airton. Gabriel corre de um lado a outro, feito enceradeira desgovernada no meio da sala. Bolatti faz um golzinho aqui, outro ali, e só. Não honra, sequer, a tradicional fibra argentina. O cérebro atende pelo nome de Carlos Alberto, jovem ex-jogador em atividade que só poderia mesmo encontrar abrigo num clube tão acéfalo quanto o atual Botafogo. Na frente o carequinha Emerson, apelidado "Sheik", briga sozinho. E o centroavante é Yuri Mamute, apresentado como Yuri Souza na camisa. Como falta identidade!
Atônito, Vagner Mancini ao menos faz da sinceridade quase um lema. Não promete o que tem certeza não poder cumprir. Pede raça, esforço, dedicação. Coitado, é o menos culpado. Merece aplausos pelo fato de ter encarado a empreitada. Não é qualquer um que, nas circunstâncias de momento, aceita dirigir um grupo paupérrimo em técnica e qualidade. E pior: com dívidas imensas e quase inacreditáveis a serem ressarcidas num prazo que ninguém no clube ousa apontar mais qual será. Ele, além de treinador, parece ser uma espécie de psicólogo: mostra compreender a situação, dá explicações realistas e não engana.
Sobre a diretoria, o que se vê são humilhantes e infelizes declarações de quem não teve uma gota de competência administrativa - salvo melhora evidente nas categorias de base e certa organização patrimonial. Dizer que pode abandonar o Campeonato Brasileiro é o reconhecimento público de uma gestão caótica, que herdou sérios problemas e conseguiu multiplicá-los. Resta esperança na aprovação de leis de refinanciamento dos enormes débitos. Melancólico quando a salvação pousa no inexistente. Só resta rezar para o ano acabar. De preferência, ainda na primeira divisão. Milagres acontecem. Torçamos!
Acaba Botafogo
ResponderExcluirAcaba Botafogo
E acaba com meu sofrimento
Hoje em dia é só tormento
E lamentos por derrotas
Já se foram pernas tortas
E em campo um bando
No extra campo bandidagem
Tenho nojo da cartolagem
Jogadores perdidos
Torcedores sofridos
E o futebol que era escape
Vai virando desastre
Acaba logo Botafogo
Some da minha vida
Você só deixou ferida
Em um coração sonhador
Que te deu muito amor
E não recebeu nada em troca
Você me fez de idiota
Agora some, fecha a porta
Wesley Machado
28 de julho de 2014