Um gordo com um capacete na cabeça chega suando na barbearia. Ele senta alvoroçado. E balbucia: “O Flamengo ganha do Botafogo quando quer”. Um rapaz chega já no início da noite e pergunta se ainda dá tempo de fazer o cavanhaque. O barbeiro diz que sim: “Senta aí”. O barbeiro interrompe o serviço para cantar uma de suas composições, que fala de traição.
O Botafogo, que tem como um de seus mascotes um cachorro, pode ser considerado a cachorra do Flamengo. Uma mulher de bandido, que apanha e está sempre pronta a apanhar novamente. E o amor do botafoguense, traído em seus sentimentos, vai deixando-o louco, perdido no tempo e no espaço, perambulando pelas ruas sujas do Centro, entre bêbados, bandidos, mendigos e prostitutas.
Um jovem senhor de rabo de cavalo, outro botafoguense, também não entende porque o Botafogo é assim. Mas é otimista. Num surto de falta de razão, acredita que o time poderá ganhar do líder, o melhor time do campeonato. E mostrando estar mesmo alucinado, concluiu que se não ganhar, será goleado. Existe alguma razão nisto?
E existe razão em torcer para o Botafogo? Um clube que ficou 20 anos sem conquistar um título. Existe alguma razão em continuar torcendo para o Botafogo, afundado em dívidas? Tudo que se lê sobre o clube causa depressão. Neste inverno frio de julho, quem será o louco de ir no Maracanã sábado?
Quem serão os loucos de continuarem sendo Botafogo? Se é que no futuro o Botafogo vai existir! Aliás, o Botafogo ainda existe? Ou é só lembranças de glórias passadas? Esta estrela solitária até quando vai conseguir brilhar sozinha na escuridão de um sonho de conquistas?
Botafogo. Ah, meu Botafogo. O que acontecestes contigo, meu amigo, irmão, filho querido? Vem cá, conte-me tudo, Botafogo! Tu és ou não és o Glorioso? Até podes perder, mas precisa também vencer. Acordar e viver!
Vive meu Botafogo. Levanta e se agiganta. Mostra sua força, suas lutas, sua história. Se o passado é de glórias e o presente de penhora, no futuro melhora. Botafogo, Botafogo, Campeão!
É o que queremos gritar! Prá todo mundo ouvir. Que te amamos! Acredite em nós.
O jovem senhor de rabo de cavalo é seu alter-ego?
ResponderExcluirNão, Álvaro. Eu fiquei só como observador. O interessante é que esse encontro entre eu, o barbeiro e estes dois personagens aconteceu mesmo. E os quatro são (ou eram) botafoguenses!
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